quarta-feira, 21 de abril de 2010

JAIR MENDES - Pequena retrospectiva







domingo, 18 de abril de 2010

Obras da exposição 2005 - Jair Mendes

Aguada com naquim - 48x66 cm - 2005 - Jair Mendes

Vasos de flores - óleo sobre tela 50x70 cm - 2005 - Jair Mendes

Vasos de flores com figuras - óleo sobre tela 50x70 cm - 2005 - Jair Mendes

Dois vasos - óleo sobre tela 100x80 cm - 2005 - Jair Mendes
Flores - óleo sobre tela 100x80 cm - 2005 - Jair Mendes

Mulher e Minotauro- óleo sobre tela 50x70 cm - 2005 - Jair Mendes

Figuras com flores - óleo sobre tela 70x50 cm - 2005 - Jair Mendes

Duas mulheres - óleo sobre tela 70x50 cm - 2005 - Jair Mendes

Noturno/Urbano - óleo sobre tela 80x70 cm - 2005 - Jair Mendes

Amaús- óleo sobre tela 130x100 cm - 2004 - Jair Mendes

Figuras com músico - óleo sobre tela 130x100 cm - 2004 - Jair Mendes

Os conquistadores - óleo sobre tela 80x100 cm - 2005 - Jair Mendes

Sem titulo - óleo sobre tela 70x50 cm - 2002 - Jair Mendes

Figuras - óleo sobre tela 70x50 cm - 2002 - Jair Mendes

Bailarina fumante - óleo sobre tela 70x50 cm - 2004 - Jair Mendes

Figuras - óleo sobre tela 80x70 cm - 2004 - Jair Mendes

Assombração á noite - óleo sobre tela 70x50 cm - 2005 - Jair Mendes
A fila da fome - óleo sobre tela 70x50 cm - 2002 - Jair Mendes


Futebol - óleo sobre tela 100x80 cm - 2005 - Jair Mendes

Figuras - óleo sobre tela 100x80 cm - 2005 - Jair Mendes


A pintura e o desenho de um artista: JAIR MENDES

Nascido em São Jose do Rio Pardo/SP, em 1938, Jair Mendes teve suas primeiras noções de desenho quando sua família mudou-se para Jacarezinho, no chamado Norte velho do Paraná. Aos 12 anos, já vivendo em Curitiba, começou o aprendizado em pintura com uma professora, graças a seus pais a que cedo perceberam seu talento.
Também foi aluno, em 1953, de Thorstein Andersen, contemporâneo de Helena Wong, freqüentando o atelier de Alfredo Andersen, hoje o museu localizado em Mateus Leme.
Terminado o ginásio no Santa Maria, em 1954, entrou na escola de Música de Belas Artes do Paraná – EMBAP, onde Guido Viaro foi seu maior incentivador.
Se, na EMBAP, o jovem Jair seguia as disciplinas programadas no calendário oficial, isto foi complementado pela orientação quase ou até literalmente underground que era oferecida pelo Centro de Gravura do Paraná, uma espécie de ateliê livre que Nilo Previdi mantinha no subsolo do mesmo prédio e que ele também freqüentou. Bastava descer uns poucos degraus e a atmosfera, os discurso, o pensamento ideogólico e os métodos de trabalho quebravam todo o arcabouço acadêmico que ainda prevalecia na EMBAP.
Em 1958, Jair graduou-se em Pintura, completando esses estudos, no ano seguinte, com Didática de Belas Artes da Faculdade Católica de Filosofia e, em 1966, cursando Licenciatura em Desenho na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica do Paraná.
Como artista plástico, já em 1957 Jair recebia menção Honrosa no XIV Salão Paranaense, o que se repetiu no ano seguinte, mas Medalha de Bronze no XVI, seguindo-se uma serie de destaques e prêmios. Suas obras foram expostas em inúmeras coletivas nacionais e internacionais, além das diversas exposições individuais realizadas, entre as quais se destacam: Biblioteca publica do Paraná (1959, 65, 73); Galeria Cocaco (63); Departamento de Cultura/SEEC (72); Eucatexpo (77); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (78); Galeria de Arte Banestado (86 94); Studio Krieger (91); Clube Curitibano (96) – em Curitiba; Stvdvis Galeria de Arte e Antiguidades (76) no Rio de Janeiro; Cine Club La Quimera (87) em Córdoba; Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew (96); Galeria Monserrat (99) e Galeria Fórum (2000) em Joinville/SC.

Atuando também como Professor e Orientador, foi chefe de Departamento de Matérias práticas da Faculdade de Educação Musical do Paraná – FEMP; exerceu, desde1972, as funções de Diretor do Centro de Criatividade de Curitiba; foi Diretor do Museu Guido Viaro de 1975 a 1988; organizou o importante Encontro Nacional de Críticos de Arte em 1980; foi Coordenador da VI Mostra de Gravura Cidade de Curitiba – Panamericana.
Em 1990, foi nomeado coordenador de Sistemas Estadual de Museus – COSEM/SEEC; de 1997 á 2002, foi Diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Joinville/SC e, desde 2003, é o Diretor do Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC-PR.
Assim, mesmo desenvolvendo intensa atividade como programador cultural, Jair conseguiu seguir sua carreira paralela na arte – sua verdadeira vocação, que jamais pensaria em abandonar – compensado as tantas horas gastas no ganhar a vida com suas verdadeiras paixões: a pintura, o desenho e a gravura. Tanto é que, entre 1979 e 1980, ele estagiou no Centre Georges Pompidou, em Paris, França e BA Academia di Belle Arti di Brera, em Milão, Itália.
Versando justamente sobre a pintura e o desenho, esta exposição mostra o resultado de uma constante troca de relações entre suas mais recentes linguagens.
Enfatizando essas duas técnicas, pode se dizer, como o próprio artista afirma, que muito de Viaro e um pouco de Poty são as mais visíveis influencias que o artista apresenta em suas obras.
Sua pintura, vibrante, forte e colorida, não nasce em um só momento, ela provém de uma intensa e trabalhosa fatura, na qual as cores são aplicadas, trabalhadas e re-trabalhadas, desde o inicio, como se fora uma ligação intima gerada entre o pintor e a obra. Como diz Jair: - “È só a pintura e eu!”.
E aqui entre uma condição temporal: depois das primeiras pinceladas, o artista encosta “de castigo” a pintura somente após 15 ou 20 dias é que Jair retoma a abra, até sentir que o trabalho está finalizado, que “a pintura rompeu o cordão umbilical com seu criador”.
Nesse processo de mimese com a vida, o autor da vida á sua obra – não somente no sentido de criar a pintura, mas também na maneira como o constrói – configurando-a com as cores certas, as únicas que tornarão viva, que a farão desabrochar, destacar no cinzento do cotidiano.
Sempre pintando á óleo, Jair declara que “Vida é cor” e que “apenas o óleo permite trabalhar a pintura, pois é o meio mais expressivo para demonstrar a qualidade pictórica da obra”. Portanto, este é um caso não só de pintura pela importância da pintura, mas da paixão pela pintura, pelos materiais, pela expressão em si que pode ser explorada até o âmago das tonalidades, das cores, das texturas.
Ao mesmo tempo em que porejam cores, suas pinturas possuem um toque gráfico. As superfícies das tintas são ora separadas, ora enfatizadas ou salientadas por meio de traços de tinta que, aplicados aqui e ali, vão compor um “sobre-desenho” uma espécie de desenho que fica por cima da pintura, sendo incorporada por ela.
Na união desses dois processos em sua pintura, é onde reside a aproximação com as obras de Viaro e do Poty: ambos ressaltavam traços em suas obras, como se o desenho tivesse que obrigatoriamente aparecer para completar ou finalizar o trabalho. Nas obras de Viaro esse processo é parte intrínseca da composição e muito visível.
Claro que Poty foi essencialmente um gravador/desenhista e a pintura talvez somente passou por ele sem o atingir, a não ser numa breve fase, quase no final da vida, como ele pintou guaches bem coloridos. Mas o modo como ele trabalhava, principalmente nas gravuras em mental das décadas de 50 e 60, era como se pintasse em tons cinzentos, como destaque para o desenho linear.
O processo dos desenhos vistos em suas exposições é o que Jair chama de “impressão ocasional”, por nascer de uma folha de papel com aguada que, ao ser pressionada sobre outro folha branca, vai resultar na “pressão”, e não na “impressão”, como brinca o artista comparando com a gravura. Na verdade, de cada matriz o artista tira outra cópia, duplicando-o no avesso.
Cada desenho – que acontece entre o propósito e o acaso – é então trabalhado em tonalidades, não em cores como na sua pintura.
Uma “mancha” – desenhada num misto entre caligrafia chinesa e quase-arabescos – é feita diretamente com o tubo de nanquim sobre a superfície anteriormente demarcada com uma aguada em cinza. E aqui se repete o processo que Jair usa na pintura: ele trabalha, deixa o desenho descansar e volta e re-trabalhar até considerar a obra pronta.
Entretanto, nos desenhos não são visíveis as influencias quer de Viaro, quer de Poty, pois o artista dá ênfase á sua liberdade criativa – inclusive na questão de cópia ao avesso – apresentando características extremamente gráficas nestas obras, tais como manchas e linhas que se interpenetram, formando uma superfície que não é só propicia uma viagem prazerosa á matéria gráfica em si, nos seus volteios e curvas, porém, simultaneamente, permite uma imersão que nos leva a profundidade da obra.
Seus desenhos remetem aos meandros de tinta de Jackson Pollock, os quais – como li numa revista Scientific American, uns dois anos atrás – mantém uma espécie de radical ou grafismo-padrão, que uma vez agrupados numa seqüência de movimentos repetidos acabam chegando ao resultado final.
Tanto no desenho quanto na pintura de Jair Mendes se fazem presentes aos três requisitos básicos de um verdadeiro artista: o conhecimento dos materiais artísticos; o conhecimento da história da arte e do uso histórico dos materiais; e o domínio no uso destes mesmos materiais.
Assim, a expressão artística de Jair Mendes – na qual o impulso do pintor/desenhista e a qualidade das pinceladas/traços se misturam, sendo modificados, alterados e recriados continuamente – não permanece somente na obra. Rebate nela e retorna ao artista até que ele possa captar aquele instante fugidio que marca a criação artística.

Nilza Knechtel Procopiak - Critica de Arte á ABCA/AICA e ANPAP

JAIR MENDES, o lado humano do sagrado

Em toda a história da arte, alguns artistas importantes permaneceram aparentemente insensíveis as ideologias modernas triunfantes ou ás caricaturas das vanguardas, mas a tradição que Jair quer manter é uma vanguarda em forma e de resistência ao academismo imposto pela dominação das próprias vanguardas, Jair Mendes é um pintor figurativo, mas no conceito de Einfuhlung de Worringer, para quem toda a arte tende a abstração, e é por isso que para ele, a ruptura das vanguardas com o metier do pintor, soa como blasfêmia.

Foi sempre tido como um artista rebelde por não se acomodar com o pré-estabelecido e por seu inconformismo com injustiça do mundo. Ainda estudante da Escola de Belas Artes, participa da revolta dos artistas em 1957, expondo com eles, pinturas, desenhos e gravuras no salão dos Pré-julgados, que deu inicio ao chamado Movimento de Renovação das Artes Paranaenses.

Seu mestre Guido Viaro elogiava principalmente sua dedicação nas aulas de modelo vivo, mas dizia que ele pintava fazendo barulho e Jair continuava fazendo barulho, é sempre polêmico, mas defendendo suas idéias: “nasceu para abolir o tempo e demolir compromissos”. Mas toda discussão acalorada acaba sempre numa grande amizade e numa mesa de bar. É o eterno boêmio que se embriagava pela atenção que da ao seu universo, sempre preocupado com as pessoas que estão á sua volta e com elas ri ao chora.
É considerado um dos artistas mais fielmente matem a figuração “expressionista” seguindo o veio riquíssimo que foi explorado inicialmente por Viaro, mas é também uma classificação que não tem muito a ver com Jair; ele escapa a ela sem, no entanto o expressionismo lhe ser estranho, principalmente nas suas soluções plásticas. O “expressionismo” de Jair Mendes é rebelde e explosivo, por isso alegre e colorido.
É alegre por natureza, mas gosta de pintar a dor e a tragédia social. Pinta como um cristão que o espetáculo do pecado o revolta, que também foi ferido pelo espetáculo da miséria. Sua inspiração é normal, cristã, religiosa, mas não sagrada, ela é a indignação dolorosa em face da decadência humana e resultado da raiva que lhe inspira a hipocrisia. Assim ele nos lembra Georges Rouault quando disse: “ Se eu fiz, na visão dos meus críticos, figuras tão lamentáveis, é que eu traduzia sem dúvida e angústia que eu sinto ao ver o ser humano que deve julgar outros homens”.
Jair é desenhista e o pintor da condição humana, do herói e da vitima, do amor e do ódio, da alegria e da tragédia, do humor e da tristeza. O que conta é a sua espiritualidade amadurecida nas formas de um dramático existencialismo católico. Toda a sua obra tem um sentido de meditação, os personagens desfigurados ou transfigurados se situam fora do tempo e refletem um mundo interior onírico, formado pelo realismo trágico de homens e mulheres que por suas vezes, também eles, estão em introvertidas meditações sonhadoras.
Reconhecemos, sempre em sua obra, os signos do sagrado na fronteira do universo cotidiano e do espaço espiritual. Num grande diptico vemos, como nas pinturas da idade média, que o personagem nu representa o pagão ou o pecador; aqui, no painel á direita, uma mulher nua esconde seu sexo e seu rosto, próximo dela, uma mulher ajoelhada chora, mas os transeuntes passam por ela sem a perceber; ela esta só na multidão – e este é o tratamento humano que ele da ao desprotegido ou ao pecador. Ainda um desenho em traço branco ultrapassa os dois painéis, representa uma mulher deitada: seria ela a imagem de um sonho ou de uma memória do pecador? Outras figuras se misturam e pedem também para serem decifradas.
Eva expulsa do paraíso! É a vergonha que se apoderou dela depois do pecado? Há muita pintura nesta tela, mas há também uma figuração narrativa que clama por meditação. É bíblico, o homem belo feito a imagem e semelhança de Deus, por isso ele endeusa o homem e humaniza Deus. O resultado é um trabalho decorrente da sua vivência religiosa e laica, que produz formas investidas de sexualidade, pois são humanizadas.
Também encontramos em Baudelaire esta mesma ambigüidade, entre a ordem do religioso e a ordem do poético, pois a poesia é um ato de conhecimento e um “meu coração desnudado”, produtor de linguagem á partir dessa consciência dilacerada e que sempre recai no tema do mal ou do pecador: As flores do mal.
Desde o inicio de sua carreira profissional de artista plástico, Jair se preocupou com os aspectos pedagógicos da arte. Participou da criação do Circulo de Artes Plásticas do Paraná juntos á outros colegas recém-formados da Escola de Belas Artes e foi professor de educação artística durante muito tempo. Estes fatos, mais a sua formação acadêmica, lhe fazem um conhecedor da história da arte e assim, sua obra é uma forma de síntese dos artistas do passado que trabalharam com profundidade as relações entre o sagrado e o profano, a realidade da arte e a realidade da sociedade.
Sensível ao mundo e também ao mundo da arte encontrou nas obras de Jair referências, por exemplo, a um pintor humanista, cristão e trágico como caravaggio que pintou a tragédia da encarnação de Deus na história, no exemplo de Cristo na humanidade sofredora. Procurou a presença do sagrado nos objetos mais simples e nas ações mais corriqueiras.
Essa religiosidade afetiva de Caravaggio, incluindo a sua simplificação das formas, mas sem perder o caráter de realidade, é o que podemos ver em quase toda a obra de Jair, inclusive nas suas paisagens e naturezas mortas, pois elas não ficam sozinhas por muito tempo, o quadro sempre grita pelo personagem humano, e por detrás d
as paisagens ou das flores vão desfilando pessoas pintadas vigorosamente, com contornos grosseiros como se tivessem sido talhadas, sugerindo personagens cheios de um realismo ferido e insuflado pelos movimentos da sua própria vida.
O valor moral dos indivíduos simples que, muitas vezes, independente da sua vontade, fazem parte do espetáculo do mundo é o tema de Toulouse-Lautrec, como ele Jair também tem suas crenças, seus modos de vida, sua moral e que, por vezes, é incitado a se exprimir em total oposição a estes compromissos. É uma arte que, reproduz a vida, seja na sua necessidade vital ou na sua finalidade social, é como imitação de uma realidade inteiramente transformada em espetáculo que o artista resolve plasticamente com o domínio do seu métier.
Mas a resistência à abstração na obra de Jair Mendes tem a ver, também, com as vanguardas artísticas dos anos 60, o confronto, de um lado, como o Expressionismo abstrato e de outro com a Pop Art. Esta arte descontraída, espontânea, expressiva e intensa que ele produz Téo propósito de, se apropriando das linguagens da comunicação de massa, interrogar de forma obsessiva o mal estar do mundo e a necessidade de resistir a ele através da forma.

Certa vez um amigo seu disse que, talvez “por timidez – ou, por não ter tido ainda a coragem de tudo dinamitar com a tinta, fazendo explodir aquela força bruta de seu talento”. Jair sempre pintou o prazer com o prazer, pintou o homem e, principalmente, as mulheres, mesmo que nelas sempre restassem qualquer coisa de nostálgico, a sua pintura é um culto à mulher e que nos lembra as palavras de Jean Cassou: “aquela que, sob qualquer aspecto que o destino a obriga a se apresentar, continua sempre a mais maravilhosa das criaturas”.
Se anteriormente Jair não tinha coragem agora, com a mostra, ele se tornou um vulcão em erupção. Suas novas pinturas, trabalhadas com a transparência das cores, talvez numa metáfora do vidro, são camadas não estabilizadas de tintas que se movem; sobre essas camadas entre o grafismo, que é a sua grande tradição do desenho e que ele mantém com maestria. O grafismo sempre faz surgir à figura humana que por vezes se fragmenta ou se dissolve na pintura. O desenho se torna então arabescos, entrelaçados, que produzem rostos ou fragmentos de corpos. Agora nada mais é estável, surgem corpos desmembrados, desenhados com o próprio tubo de tinta, com forte entonação erótica. A matéria pictórica sublimada, enobrecida, é penetrada pela luz e sensibilizada pela espiritualidade especial do artista.
Há paisagens líricas, naturezas mortas construídas com a cor, mas há figuras humanas, de trabalhadores, de sofredores e as belas mulheres, seres privilegiados por Jair, que, se são prostitutas aviltadas, têm nobreza de alma e a discreta grandeza de heroínas.
A cor é utilizada no sentido expressionista, ela plastifica as figuras das quais os artistas tira proveito somente dos efeitos de nuances cromáticas, exagerando no grafismo quase caricatural – um místico romântico de inspiração primitiva, quase um bárbaro.
É a pintura que o conduz, seja para a tragédia ou para o sonho. Pinta ainda o costume de seu tempo, mas não é um frio moralista nem um satírico, é amargo e duro porque conhece a ferocidade de um mundo do qual também faz parte.
O erotismo de seus quadros começa na representação de imagens profanas, por vezes, por vezes retiradas contexto religioso, são sugeridas pela idealização artística de beleza do corpo humano. Tudo é acompanhado pelo trabalho sensível sobre a matéria, que neste momento se tornou mais espessa e mais rica, cujas camadas se sobrepõem irregularmente. O desenho vem em paralelo simplificando a forma e separando as marchas: “boina preta, roupa vermelha, fazem belas manchas de cores”. (Rouault)
A obra de Jair Mend
es é um canto, quase um grito; é uma Ópera realista, trágica ou cômica, ópera séria ou ópera bufa, mas sempre ópera; ele mesmo gosta de cantar, no seu corpo corre o sangue dos Rondinelli, do Scala de Milão; sua preferência é a ópera romântica e é, justamente, na concepção que o romantismo faz do amor que encontramos a mais clara assimilação entre o sagrado e o profano, mas é de pintura que estamos falando:
“Não há pintura que não seja, quer queiramos ou não, representação fraternal; a que faz referência ao espelho, a que tem relação com o outro ou com outro sexo, que é a matéria de nosso pensamento, infinita criação de nossa concepção de mundo” (Eugene Leroy, pintor).Jair Mendes proprietário de um desenho e de um traço invejável é mais um dos pintores que afirma com veemência que a pintura ainda existe e que é necessário resistir. Mesmo que ela se torne visceral, que penetre em suas entranhas, como agora, que ela sai de lá revitalizada, fortificada para o prazer de nossa fruição estética, pois esta é uma das razões que fazem aparecer o valor da arte. Na exposição que Jair fez em Julho/2005 em Curitiba/PR a pintura e ele são um só, lembrando Klee; é o artista no melhor momento de sua criação quando seu traço incisivo e forte se mistura com a matéria e a cor que nos fazem pensar se Jair já não está procurando as soluções da abstração lírica.


Fernando A. F. Bini - Professor de História da Arte, Pesquisador e critico de Arte - Maio de 2005