quinta-feira, 18 de março de 2010

Jair, o Artista, o Homem Público


Em Jacarezinho, cidade do norte paranaense, onde morou por uns dois anos, conheceu as pinturas de Eugênio Sigaud na Igreja Matriz e assistiu muitos filmes no cine Éden. Nessa cidade teve a sua primeira professora de desenho. “Ela vinha com uns cartões- postais e pedia que eu os reproduzisse”, conta Jair, que não agüentou aqueles exercícios por muito tempo, pois o que queria, conforme ele mesmo diz, “era algo de mais vivo, mais dinâmico”. Então improvisou um cavalete num cômodo de sua casa e começou a pintar a paisagem que via pela janela.

Em 1953, no cenário e emancipação política do Paraná com suas inaugurações também históricas, seus festejos, Jair, adolescente, já estava morando em Curitiba. Enquanto fazia o curso médio no Colégio Santa Maria, paralelamente tinha aulas três vezes por semana com o professor Thorstein, que era filho de Alfredo Andersen (1860-1935), considerado um dos pais da pintura paranaense. Esta escola de Thorstein ficava na Rua Mateus Leme, o mesmo local onde é hoje o Museu Alfredo Andersen. Mas foi durante o curso da Escola de Belas Artes do Paraná, entre 1954 e 1958, que Jair se define como pintor, isto é, que desenvolve seu estilo, que descobre a sua linguagem, a sua arte.

Isso não por conta da Belas Artes como instituição, porque como ele mesmo diz “o que pesa é o talento”, mas por conta do debate de idéias e do convívio ali dos colegas, Previdi, Luiz Carlos Andrade Lima, João Osório, Calderari e outros, e com professores da Cepa de um Traple, Frysleben, Stenzel, Barontini, Lopez, e especialmente Guido Viaro, com quem construiu uma sólida amizade, que só terminaria com a morte do pintor em 1971. Numa entrevista que concedeu para a revista Quem em 1982 assim falou sobre o mestre: “Como artista aprendi muito com Guido Viaro. Ele não era de falsos elogios, nem de incentivos banais. Não corrigia trabalho de aluno. Chegava e falava, ´olha, isso ta uma.....faça de novo`. Viaro me ensinou principalmente a observar. As gentes, as coisas”.

É quando Jair começa então á tomar consciência da sua arte. E qual é sua arte? “A minha arte é a arte que vem de dentro para fora. Tenho necessidade de me expressar de forma muito forte, conforme eu sinto as coisas”.Ele afirma que isso tem haver com sua formação, sedimentada com um forte interesse pela política e pelas causas sociais. “Minha consciência voltada para o lado mais humano da vida começou a se revelar durante a formação da universidade, quando percebi que o socialismo era um caminho para os meus anseios de artista e de solidariedade. A religiosidade cristã veio completar essa minha tendência á esquerda. O cristianismo para mim seria uma forma de agregar idéias de igualdade e justiça. Então isso tudo de juntou, uma espécie de liquidificador que mistura tudo. Minha pintura sai desta mistura. E minha pintura não é racional, fria, cerebral; minha pintura acontece. E é figurativa porque tenho a figura de mim. Mas como expressão”.

Para o critico Aramis Millarch, “Jair é um HOMEM que transmite nas cores de suas telas sua visão de mundo”. Geralmente Jair inicia um quadro, sem que tenha terminado outro. E que sente necessidade de ir mudando. Então põe aquele quadro na parede, deixa ali por uns dias, depois retoma, trabalhando com mais observação. “Quando estou pintando um quadro, não existe eu e o quadro, mas uma coisa só. Como, modéstia á parte, eu desenho bem, eu seria capaz de até fazer uma pintura acadêmica. Mas isto não me satisfaz. Para mim tem que sair voluntariamente”. Ao longo destes décadas Jair participou de salões (ganhou prêmios), de exposições coletivas, fez várias individuais (Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, e em outras cidades), mas prefere não destacar nenhuma deles. Porém guarda carinho, por força do que ele chama de “fatos extras”, por algumas delas. Por exemplo, a sua primeira individual em abril de 1959, hoje histórica, feita logo que terminou o curso de Belas Artes – uma exposição grande, composta de 93 trabalhos. O texto de apresentação foi escrito por Guido Viaro, que assim diz sobre o jovem artista: “O Jair destes últimos tempos me parece mais assentado, mais abreviados em suas definições pictóricas, mais limpo e sugestivo na cor. Sua pintura é exibição de cor, como acento plástico; tema aparece velado para que o visitante tenha o prazer de descobrir algo”. O local desta exposição foi a Biblioteca Pública do Paraná. “Meus pais, que tanto me haviam apoiado”, lembra Jair, “foram me ajudar a colocar os quadros. E depois aquele toda da abertura, os professores, os amigos, olha, foi emocionante”.

Também a individual na galeria Cosaco (1963) esta entre as suas preferidas “ a primeira vez que eu fui com minha mulher” (Maria Luiza, que lhe deu três filhos, Fábio, Thaisa e Sabrina) Lembra-se também da exposição na Eucatexpo (1977), a galeria Banestado (1986), a da pinacoteca do Clube Curitibano (1996), sobre o qual assim escreveu Edson Machado: “ A pintura de Jair transita sem preconceitos pela natureza da alma humana, quando naturalmente se desnuda como cúmplice da religiosidade social ou no latente erotismo de suas roliças e lúbricas mulheres. O sensual nu feminino, o inconsútil hábito franciscano, a instrumentação de operário, do viajante, do lavrador, o alumbramento da florista, os jogos de azar, a sedução dos amantes, o afeto da família são personagens anônimos deste universo pictórico”. Jair afirma guardar muito carinho também pela exposição “Carmela e o Lobisomem”, composta de pinturas e desenhos, vista em Curitiba e em Portugal (1988). Para o critico Rodrigues Vaz, de Lisboa. “...estas obras vigorosas, ás vezes de forma maciça e pesadas, quase herméticas, são uma interessante lição esotérica, acabando por nos deixar em profundo sentimento de poder e de vigor interior.” Valêncio Xavier, por sua vez, chamou-a de “ a bem sucedida via-sacra de um amor bem sucedido por um pintor que, no apogeu e juventude de sua arte, pode se dar ao luxo de jogar nas telas toda a liberdade de seu sentimento. E não é assim que exigimos de um artista, que ponha em sua obra toda a liberdade do pensar e do sentir?”.

É oportuno frisar que a obra de artística de Jair vai além das exposições. As pinturas e desenhos. Fez ilustrações para livros, ilustrações jornais e revistas, como ainda seus murais e painéis em Curitiba e outras cidades, e sua produção teórica. Descobriu o gosto pelos painéis ainda na década de 1960, logo após terminar a Belas Artes. Os primeiros foram concebidos para apartamentos de parentes em Curitiba com a temática do futebol, uma de suas paixões, bem como fragmentos de sua memória infantil em São Jose do Rio Pardo, destacando-se a pequena casa onde morou por algum tempo o escritor de os Sertões, Euclides da Cunha, enquanto supervisionava a construção de uma ponte sobre o rio que da o nome á cidade, escritor com o qual, não é coincidência, Jair muito se identifica.



Em 1989 Jair foi convidado para fazer um painel para a Empresa de Energia Elétrica de Vitória no Espírito Santos. O tema é a história do desenvolvimento do Espírito Santo a partir da primeira usina de energia elétrica daquele Estado, com vinculado á colonização local. Uma fachada de edifício, azulejo pintado. E por último, um painel em concreto armado (relevo), que ele fez para o Teatro Juarez Machado em Joinville, no hall da entrada, 1990 e que conta a história do teatro através dos tempos. O painel mais famoso do Jair, por causa da polêmica que provocou na época, foi o que ele fez para o Centro de Criatividade de Curitiba, em 1973, um espaço publico e municipal, a convite do arquiteto Roberto Gandolfi, então responsável pela estruturação e remodelação do espaço. Esta obra de Jair na verdade é um conjunto de três painéis realizados em cedro trabalhado e tingido. Um deles conta a história da criação, a partir dos Gênesis bíblico, este homem e deus desdobradores. Como este painel trazia um Deus nu, desagradou uma ala da Igreja Católica. Isso rendeu matéria nos jornais locais e de fora, e na televisão, como o programa Fantástico, da rede Globo.

Do Paraná inteiro, Londrina, Maringá, Cascavel, Umuarama, vieram cartas iradas, ofensivas, contra Jair. Essas cartas que permanecem guardadas, a sete chaves, nos arquivos do artista, podem ser hoje fonte importante para o estudo do comportamento daquele período no Paraná. Uma destas cartas chegava a pedir o internamento do artista no hospício. Em entrevista a o Estado do Paraná em setembro de 1973, Jair, demonstrando sua consciência de modernidade, assim discorria sobre esta obra: “meu trabalho é a própria evolução social da vida humana e nada tem haver especificamente com o sexo de Deus. O mal esta em mostrar o sexo numa obra de arte, mas de certas pessoas verem o sexo como um mal.” Mesmo Jair tendo uma obra reconhecida, com prêmios em salões, nunca foi de vender muitos quadros. Porque se trata de uma pintura incisiva, muitas vezes provoca um soco no estômago. Como fez também o curso de Didática Especial na Universidade Católica do Paraná (1979), que lhe assegurou licenciatura em pintura, desenho, educação artística, história da arte, encontrou sobrevivência no magistério. Registra-se que nos inícios da década de 1960, em Curitiba, já casado com os filhos pequenos, também trabalhou como gerente numa das lojas (calçados) de sua família. Mas a partir de 1973 que ele opta pelo magistério, agora com aula em diversos colégios, como Nilson Batista Ribas, Santa Maria, Rio Branco, Medianeira, NS da Esperança, Tuiuti, e depois na Faculdade de Educação Musical do Paraná, hoje a FAP. Com isso ele pode continuar absoluta independência e sua criação artística.

Jair assume a vida publica propriamente dita em 1973, quando passa a dirigir o Centro de Criatividade de Curitiba, logo após ter feito os painéis no local. Faz ali bom trabalho, relevando-se aberto a todas as vertentes das artes plásticas, da arte e da cultura como um todo. O Centro de Criatividade surgiu de um projeto de Jaime Lerner, na sua primeira gestão como prefeito de Curitiba, de aproveitamento dos parques da cidade, no caso o Parque São Lourenço. Tratava-se de uma antiga fabrica de adubos no local que deveria ser transformada num equipamento cultural. “pelas proposições, os cursos com ministrantes internacionais, as experiências de arte que ali se desenvolveram foi uma coisa importantíssima”, diz Jair Mendes. “Tão importante para Curitiba como foi o parque Lage para o Rio de Janeiro. Um local onde o espectador, o artista tinha a liberdade de escolher a forma como fazer o que tinha necessidade cultural”. Nesse período foram trabalhar no Centro de Criatividade artísticas como Fernando Calderari, João Osório Brezinsky, Antonio Arney, Teça Sandrini, Elvo Damo. Em 1975, a Prefeitura de Curitiba, através, da Fundação Cultural de Curitiba, decidiu implementar um novo espaço, o Museu Guido Viaro, dedicado á obra do pintor, no centro histórico da cidade, e Jair foi convocado pelo diretor Constantino Viaro para estruturá-lo. “Foi um dos espaços mais importante que surgiram em Curitiba porque além do Museu, que seria o local para se mostrar a obra de Guido Viaro, achamos que, dentro do próprio espírito que era o pintor e professor Viaro, poderíamos transformá-lo num local dinâmico, criativo e comunicativo”. Daí a criação de diversos setores do Museu, como o atelier livre, o centro de restauro, biblioteca, centro de pesquisa e mais tarde, por indicação de Constantino Viaro, um dos diretores da FCC, e sugestão de Valêncio Xavier , a criação da Cinemateca, mas tarde Cinemateca de Curitiba.

O atelier livre ura um local de aulas de desenho e livre expressão criativa que contava paralelamente com uma galeria jovem que expunha o trabalho dos jovens artistas. “Na verdade, o Museu transformou-se no maior espaço cultural da cidade na época”, frisa Jair. Uma das iniciativas do Museu que mais repercutiu foi o “Dr. Eureka no Museu Guido Viaro” que através de monitores consistia em fazer as crianças brincarem com teatro de fantoches e conhecer o museu através do boneco. “Uma revolução para a época. Tanto que foi levado posteriormente, sem a minha autorização, sem eu saber, para o Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro”, diz. Em 1980 Jair integrou um grupo de artistas e professores numa viagem á Europa para conhecer museus de Portugal, Espanha, França e Inglaterra. O grupo retornou, mas ele permaneceu, primeiro em Paris para um estágio de um mês no Centro Georges pompidou (também conhecido como Beaubourg), e depois em Milão na Itália para uma estágio de três meses na Academia de Belas Artes Brera. “No pompidou impressionaram-me não tanto as proporções, porque de alguma forma já estávamos realizando em Curitiba, mas sim os recursos que eles tinham para fazer as coisas, a parte técnica, à biblioteca, as atividades de rua, a própria cinemateca. Eu tive a oportunidade de conhecer esse Centro na sua estrutura por dentro, sua estrutura funcional. Foi muito importante, foi um aprendizado que eu tenho comigo até hoje e que procurei aproveitar”. Em Brera Jair teve a oportunidade também de participar de alguns cursos. “Aprendi que naquela academia eles discutiam muito mais filosofia e política do que faziam arte. Eles diziam que arte é conseqüência disto. Os alunos iam antão realizar nos seus estúdios, nos seus ateliers. Escolas eram para discutir. Brera deu-me uma abertura maior na minha forma de pensar e fazer as coisas”. Jair Mendes continua á frente do MGV ainda durante a presidência de Carlos Marés de Souza Filho na FCC (1983-1988), gestão em que cuidou da estruturação do Museu Metropolitano, no bairro Portão – um precioso acervo, sua preservação, incluindo-se o da coleção de Poty Lazzarotto. Registra-se que depois, em 1993, insensibilidades políticas infelizmente levaram o fechamento deste Museu Guido Viaro. Um choque para os meios artístico locais e que até hoje não parece ter sido superado. Mas Jair nessa época já estava trabalhando na Secretária de Estado da Cultura do Paraná a convite de René Dotti, no governo Álvaro Dias, onde assumiu o departamento do Museus. Empenhou-se na criação do COSEM/Conselho Estadual de Museus. “Este se tornou derepente num mecanismo muito importante de regionalização de cultura. Isto porque começamos a dar assistência aos museus do interior. Sentindo a dificuldade que havia na proporção da cultura no interior, criou-se então um programa chamado Oficinas Integradas de Cultura-artes plásticas, música, teatro, cinema, banda, circo, artesanato.

Depois no governo Roberto Requião e Gilda Poli como secretária da Cultura (1991-1994) este trabalho foi ainda mais valorizado. “Foi quando estivemos trabalhando em 320 cidades”, conta Jair. “Levava-se cultura para o interior e criava-se ao mesmo tempo condição de trabalho para os artistas, já que eram contratados para irem dar aulas em diversas cidades. O método era o seguinte: primeiro se fazia uma visita anterior para ouvir as comunidades nas cidades e só depois que se organizavam as oficinas. Normalmente as atividades concentram-se numa cidade-sede enquanto as cidades vizinhas juntaram-se ao trabalho, “Só uma vez, em Assis Chateaubriand, nós levamos 42 professores para trabalhar”, relembra. Porém o mais importante disso, conforme diz Jair, foi o mapeamento do estado, “as carências, o que a região esta precisando, e as vocações, o que a região tem para oferecer”. E abrindo a possibilidade de intercâmbio cultural em todo o Paraná. Entre 1996 e 2003, Jair foi Diretor de Ação Cultural da Fundação de Cultura de Joinville/SC. Foi Edson Machado (irmão de Juarez Machado), então presidente da FC de Joinville, quem lhe fez o convite. “Eu já tinha uma boa relação com os artistas de Joinville e fui bem recebido, não tive maiores dificuldade”, conta Jair, que ali iniciou um trabalho de valorização e desenvolvimento do que havia na cidade, mas introduzindo novidade, “algumas com excelente repercussão”. Cita o cinema, a criação de uma orquestra sinfônica, para lá também levando a experiência das oficinas culturais nos bairros da cidade.

Ao lado do prefeito Luis Henrique e Edson Machado, Jair participou da concretização do Centro de Eventos Carl Hansen que transformou um esqueleto do Teatro Municipal numa arena de multi-uso, um espaço para oito mil pessoas, que tanto pode ser aproveitado para atividades esportivas, como para festas, teatro. “Um palco enorme, com todos os recursos de tecnologia moderna, próprio para grandes espetáculos”, onde se realiza o festival de Dança de Joinville.” Este festival já existia, só lhe foi dada uma roupagem nova, uma proporção maior, uma personalização”. Cita ainda a criação da Escola Teatro Bolshoi no Brasil, instalando em Joinville, a única filial desta escola fora da Rússia, e que tem como filosofia o ensino da dança para crianças de baixa renda. Alem de abrir oportunidade para alunos de todo o Brasil e da América-Latina á importância maior do Bolshoi local decorre das oportunidades oferecidas á própria cidade de Joinville, “já que os alunos são crianças saídas da rede municipal de ensino, com aulas gratuitamente, depois de uma seleção criteriosa”. Com a volta de Roberto Requião como Governo do Paraná em 2003, e com indicação de Vera Mussi para a Secretária da Cultura, Jair recebe o convite para assumir o Museu de Arte Contemporânea do Paraná, o MAC, pondo suas idéias e sua competência a serviço daquele espaço. Mas ele não vê como sendo tanto desafio este novo cargo, já que não deixa de ser, com alguma diferença, uma continuação de seu reconhecido trabalho como museólogo. E revela-se informado também sobre a arte atual e em contato com as novas gerações de artistas. “ E tenho uma certa facilidade de conviver com os jovens, um gosto, um relacionamento muito gratificante com eles, mas sem deixar de cobrar a seriedade nos que eles produzem”.

Assim é que Jair tem aberto o MAC para muitas iniciativas interessantes. Além das exposições promovidas no MAC, que tem mexido com Curitiba ultimamente, ele tem posto suas idéias também na realização do Salão Paranaense, um dos mais reconhecidos eventos de artes visuais do Brasil. Para Jair, trata-se do salão mais importante do pais, porque é o único que tem seis décadas de existência, 61° edições ininterruptas, sendo que grandes artistas brasileiros por ai passaram. “Mas o conceito do salão mudou muito, a arte mudou muito”, ele informa. E exemplifica dizendo que nos tempos em que participava de salões, pegava três quadros, fazia a inscrição e esperava o resultado do Júri. “Hoje não é mais assim, hoje há que se ter uma proposta, se preparar, ou seja, propostas especiais, algo de mais complexo e mais demorado. Porque são muitas as técnicas”, e acrescenta que hoje não há mais salões de pintura, desenho, escultura. “Hoje tudo é uma coisa só, mas no sentido de que se pode usar tudo isso e muito mais. Principalmente as novas formas de tecnologia, uso de material expressivo, formas de expressão, o que requer mais tempo”.

Daí a idéia desse salão, ao invés de anual como vinha sendo feito até agora, tornar-se bienal. Uma adaptação em termos de organização interna, como também externa, a preparação dos artistas. Em 2004, por solicitação de Vera Mussi, coordenou a semana que Cultura do Paraná em Córdoba na Argentina e em 2005 coordenou a participação artística e cultural do Paraná nas promoções do Ano do Brasil na França, que ocorreu em agosto em Paris. Como se vê Jair Mendes com 72 anos de idade, continua em plena criatividade, dando o melhor de si não só como artista, mas como ser humano, líder dedicado e voltado á causa cultural, pública, comunitária. A obra de arte é sempre mais real que a própria realidade, “atesta a dignidade da imaginação artística que se ergue com a consciência do absoluto”, e é sua função se fazer compreender, mesmo que a intenção seja a de ser obscura, pois na pintura, a imagem se refere ao seu objetivo pela sua semelhança, pela sua transparência, e através dela é que se deve chegar ao objeto da realidade, sendo assim o quadro, na visão do objeto apresentado, é o próprio objeto do olhar, foi desta maneira que o filósofo Emmanuel Levinas se referiu sobre a função da arte e da critica, num artigo publicado na revista Lês Temps Modernes (1948). Somente um motivo pode nos conduzir á abstração, é a de que se sendo a realidade tão dura e tão violenta, ela deve então ser escondida pelas formas abstratas. Jair Mendes, que há quase dez anos expunha em Curitiba, sempre se recusou em aderir á abstração informal, certamente não por comodismo de estar integrado nas correntes figurativas, mas por sua ideologia em relação ao seu próprio trabalho plástico.

Francisco Alves dos Santos - Jornalista e critico de cinema